Amendoim gostava muito de comer amendoins. Os seus amigos gostavam de nozes, avelãs, bolotas e alguns gostavam de procurar cogumelos e sumarentas frutas.
No entanto, o nosso esquilo gostava de amendoins e sempre que podia degustava uma bela dose desta iguaria.
Mas um dia, o Esquilo – Mor reuniu toda a comunidade de esquilos e anunciou que a forma como se alimentavam precisava ser redefinida. De forma a optimizar os recursos, os alimentos mais difíceis de encontrar deixariam de fazer parte da dieta. Nessa lista, incluíam-se os amendoins.
O Amendoim ficou desolado! Como ia deixar de comer amendoins, se eram o seu alimento favorito? Até era esse o seu nome, como lhe podiam de repente negar este repasto?
Uma vez que não podia deixar de comer, lá foi buscando as suas doses de bolotas e nozes. Apesar de não lhe saberem tão bem como os amendoins, deu por si a comer mais e cada vez mais. Sentia-se culpado, afinal porque tinha aquela necessidade de comer todas aquelas bolotas? Comia até sentir o seu estômago bem forrado. Estranhamente, isso dava-lhe uma certa sensação de segurança, que nem sequer sabia explicar.
Um dia comeu tanto que ficou com dores de estômago. Alguma coisa tinha que mudar.
Amendoim não queria comer todas aquelas bolotas; nem sequer lhe sabiam assim tão bem! Não sabiam tão bem quanto os amendoins. Suspirou ao lembrar-se dos seus amendoins, do seu sabor, da sua textura e de como o seu estômago ficava feliz a comê-los.
Pensou que não se importaria de comer menos amendoins que bolotas, porque eram amendoins e por isso valia a pena. E, deste pensamento, foi um raio até outro: não se importava nada de ter mais trabalho para encontrar amendoins. O Esquilo – Mor queria optimizar recursos, mas o Amendoim podia optimizar os seus próprios recursos, não podia?
Entusiasmado, foi a correr encontrar um amigo seu que estava numa dieta privada de castanhas e contou-lhe a sua ideia.
O amigo fez um ar assustado: “Não, não, se o Esquilo – Mor diz que é assim que temos que fazer, é assim que temos que fazer. Precisamos de comida, devemos fazer o que ele diz.”
Amendoim explicou a sua proposta: iriam continuar a reunir a comida proposta pelo Esquilo – Mor mas, no seu tempo, iriam procurar a comida de que mais gostavam.
O amigo deu-lhe uma longa lista de contras, mas o Amendoim preferiu focar-se nos prós, lembrando-se do sabor dos amendoins.
Durante semanas, seguiu o seu plano. Tinha dias em que se sentia mais cansado, e em que quase se esquecia do porquê da sua luta. Ainda por cima, todos lhe diziam que era uma tolice continuar com tudo aquilo. Já lhe tinham encontrado uma forma de viver, para quê complicar?
Mas quando chegava à sua toca e podia degustar os seus amendoins, o pequeno esquilo sentia uma paz e alegria que não sabia verbalizar.
Agarrando-se a essa sensação, Amendoim continuou.
Um dia, ao observar humanos ao longe viu que eles lançavam coisas à terra e esperavam que elas crescessem.
Curioso, Amendoim observou e aprendeu.
E de tudo o que aprendeu, foi testando, errando, testando…
E assim, Amendoim, o Esquilo, se tornou no primeiro esquilo plantador de amendoins.
© Isa Lisboa
História escrita para a Ana Margarida, num Workshop de “Histórias e Metáforas Terapeuticas”.
Se quiserem ouvir-me a contar esta história, podem fazê-lo no YouTube, Instagramou https://www.facebook.com/plugins/video.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fisa.lisboa.escritora%2Fvideos%2F775549386294751%2F&show_text=0&width=560” target=”_blank” rel=”noopener”>Facebook.
