
De volta ao normal

© Isa Lisboa
Porque existem Marias e porque existem Vitórias, marquemos o Dia Internacional da Mulher!
Ao ver a palavra “Fim” naquela tela gigante, percebeu que algo de novo começava,
Sempre vivera em Pequena Holanda, rodeada de flores. Começara cedo a profissão da família, cultivando aqueles pedaços de beleza. A maior beleza do mundo, como sempre lhe tinham dito.
E sempre acreditara que o seu pequeno mundo era o mais belo.
Agora, aos 16 anos, descobria que havia mais mundo, para além do campo de orquídeas.
Hoje descobria que, noutros pontos do país, havia uma beleza imensa, maior do que a vista alcança. De um azul mais mágico que a cor de qualquer flor que algum dia tenha visto crescer.
Hoje, Cristiana Pé Curto descobria que queria dar passos de gigante.
Hoje, Cristiana Pé Curto descobria que havia um mundo chamado mar. Um mundo que havia de a levar a outros mundos.
Hoje tornava-se amanhã.
© Isa Lisboa
Este conto surgiu a partir de um desafio de escrita criativa.
Era um vendedor de sonhos. Tinha um pregão chamativo. Dispunha-os de forma inteligente na sua bancada, de forma a que os maiores ficassem em destaque e chamassem também a atenção dos potenciais clientes.
Alugara aquele espaço, sem saber ainda bem o que queria vender. Queria vender algo que as pessoas precisassem, mas não só. Queria vender algo que as pessoas quisessem.
Matutou, matutou, e viu o quanto os sonhos andavam na mó de baixo, ultimamente.
As pessoas contentavam-se com o que era normal, habitual, banal.
Era um risco, sabia. Oferecer algo diferente tanto podia ser um grande êxito, como um gigantesco flop.
Mas ser vendedor de sonhos era profissão que lhe assentava como uma luva.
Dedicou-se a escolher a melhor matéria-prima e a estudar a melhor forma de os moldar, de maneira a que fossem especiais. Cada um saía diferente, como devia ser, para que cada cliente pudesse comprar o seu próprio sonho, adaptado ao gosto de cada um.
Distribuiu flyers por vários locais e, no dia marcado, inaugurou a sua banca de sonhos.
O efeito surpresa resultou, vieram muitos curiosos e, naturalmente, outros tantos cépticos. Nem todos compraram, mas o primeiro dia encerrou com saldo positivo.
A curiosidade passou palavra e outros curiosos foram passando e comprando. Negócio de vento em popa, era agora, oficialmente um vendedor de sonhos.
Sentia-se feliz de cada vez que via a bancada a esvaziar. Mais feliz quando, por acaso, se cruzava com alguém na rua, que, feliz, lhe vinha dizer como gostava dos sonhos que vendia.
Alguns clientes eram mais exigentes. Ao chegar, não encontravam exposto aquilo que procuravam. Deixavam encomendados os seus requisitos, aquilo que queriam de especial.
Isto constituía um desafio para o vendedor, que também era um fazedor.
Alguns sonhos podiam demorar semanas a aperfeiçoar. Desde descobrir tudo o que era preciso, até encontrar as quantidades certas e o ponto ideal de os misturar. O nosso vendedor sentia-se um artesão. E, na verdade, era arte o que saía das suas mãos.
Por vezes sentia uma ponta de nostalgia quando vendia um novo tipo de sonho… Afinal era uma criação sua e seria outra pessoa a usufruir dela…
Mas algo maior se sobrepunha, como se não estivesse apenas a vender, mas também a construir.
No entanto, quando recebeu a sua primeira reclamação, apercebeu-se de que as pessoas se esqueciam rapidamente da única instrução que dava quando vendia um sonho:
“Alimentar diariamente!”
© Isa Lisboa
Amendoim gostava muito de comer amendoins. Os seus amigos gostavam de nozes, avelãs, bolotas e alguns gostavam de procurar cogumelos e sumarentas frutas.
No entanto, o nosso esquilo gostava de amendoins e sempre que podia degustava uma bela dose desta iguaria.
Mas um dia, o Esquilo – Mor reuniu toda a comunidade de esquilos e anunciou que a forma como se alimentavam precisava ser redefinida. De forma a optimizar os recursos, os alimentos mais difíceis de encontrar deixariam de fazer parte da dieta. Nessa lista, incluíam-se os amendoins.
O Amendoim ficou desolado! Como ia deixar de comer amendoins, se eram o seu alimento favorito? Até era esse o seu nome, como lhe podiam de repente negar este repasto?
Uma vez que não podia deixar de comer, lá foi buscando as suas doses de bolotas e nozes. Apesar de não lhe saberem tão bem como os amendoins, deu por si a comer mais e cada vez mais. Sentia-se culpado, afinal porque tinha aquela necessidade de comer todas aquelas bolotas? Comia até sentir o seu estômago bem forrado. Estranhamente, isso dava-lhe uma certa sensação de segurança, que nem sequer sabia explicar.
Um dia comeu tanto que ficou com dores de estômago. Alguma coisa tinha que mudar.
Amendoim não queria comer todas aquelas bolotas; nem sequer lhe sabiam assim tão bem! Não sabiam tão bem quanto os amendoins. Suspirou ao lembrar-se dos seus amendoins, do seu sabor, da sua textura e de como o seu estômago ficava feliz a comê-los.
Pensou que não se importaria de comer menos amendoins que bolotas, porque eram amendoins e por isso valia a pena. E, deste pensamento, foi um raio até outro: não se importava nada de ter mais trabalho para encontrar amendoins. O Esquilo – Mor queria optimizar recursos, mas o Amendoim podia optimizar os seus próprios recursos, não podia?
Entusiasmado, foi a correr encontrar um amigo seu que estava numa dieta privada de castanhas e contou-lhe a sua ideia.
O amigo fez um ar assustado: “Não, não, se o Esquilo – Mor diz que é assim que temos que fazer, é assim que temos que fazer. Precisamos de comida, devemos fazer o que ele diz.”
Amendoim explicou a sua proposta: iriam continuar a reunir a comida proposta pelo Esquilo – Mor mas, no seu tempo, iriam procurar a comida de que mais gostavam.
O amigo deu-lhe uma longa lista de contras, mas o Amendoim preferiu focar-se nos prós, lembrando-se do sabor dos amendoins.
Durante semanas, seguiu o seu plano. Tinha dias em que se sentia mais cansado, e em que quase se esquecia do porquê da sua luta. Ainda por cima, todos lhe diziam que era uma tolice continuar com tudo aquilo. Já lhe tinham encontrado uma forma de viver, para quê complicar?
Mas quando chegava à sua toca e podia degustar os seus amendoins, o pequeno esquilo sentia uma paz e alegria que não sabia verbalizar.
Agarrando-se a essa sensação, Amendoim continuou.
Um dia, ao observar humanos ao longe viu que eles lançavam coisas à terra e esperavam que elas crescessem.
Curioso, Amendoim observou e aprendeu.
E de tudo o que aprendeu, foi testando, errando, testando…
E assim, Amendoim, o Esquilo, se tornou no primeiro esquilo plantador de amendoins.
© Isa Lisboa
História escrita para a Ana Margarida, num Workshop de “Histórias e Metáforas Terapeuticas”.
Se quiserem ouvir-me a contar esta história, podem fazê-lo no YouTube, Instagramou https://www.facebook.com/plugins/video.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fisa.lisboa.escritora%2Fvideos%2F775549386294751%2F&show_text=0&width=560” target=”_blank” rel=”noopener”>Facebook.
Imagem: pixabay.com
Era uma vez uma pequena fada, que vivia no Jardim das Orquídeas. A sua função nesse jardim era cuidar das plantas, regá-las, e deixá-las bonitas. Sentia-se muito feliz ali, no Jardim das Orquídeas.
Um dia, andava a voar por ali perto e encontrou uma fada amiga. Ela vivia no Jardim das Rosas. Começou a falar-lhe da vida por lá e convidou-a a dar um passeio por entre as rosas.
A nossa pequena fada aceitou o convite e seguiu-a. Achou as rosas muito bonitas. Mas não eram tão bonitas quanto as suas orquídeas – pensou. As orquídeas eram bem mais exóticas, apesar de lhe parecer que era mais difícil cuidar delas que das rosas.
Meio imersa nestes pensamentos, sobressaltou-se com um conjunto de risadas e vozes familiares. Eram amigas suas que já não via há muito tempo. Conversaram até ao final do dia e foi muito bom! Enquanto voltava para casa, percebeu que tinha muitas saudades daquelas três amigas. Seria bom trabalharem no mesmo jardim e estarem mais tempo juntas.
No outro dia, voltando ao trabalho, tinha as suas orquídeas com muitas saudades dela e a precisar dos seus cuidados. E foi a isso que se dedicou durante todo o dia.
Quando chegou ao final do dia, percebeu que estava dividida entre Orquídeas e Rosas.
Não queria deixar as suas lindas flores, mas sentia falta das suas amigas.
Precisava de um conselho e, para isso, ninguém melhor que a Fada Azul. Voou até ela, ansiosa!
“Acalma-te, pequena fada.” – disse-lhe logo a anciã – “A tua mente está dividida, mas não é aí que encontrarás as respostas que procuras. As tuas respostas só podem ser ouvidas dentro do teu coração. É o teu coração que sabe qual é o teu verdadeiro lar.”
A pequena fada saiu a pensar naquelas palavras. Como ouvir o coração?
Decidiu ir até um lugar silencioso, onde estivesse sozinho, sem ninguém à volta, sem ninguém a opinar.
No início foi difícil ouvir-se, porque mesmo longe de tudo, continuava a ouvir barulho.
Mas depois de um tempo dedicada apenas a ela própria, a resposta ao seu dilema apareceu; clara como água, dentro de si.
© Isa Lisboa
Imagem:pixabay.com
História escrita para a Ana Catarina, num Workshop de “Histórias e Metáforas Terapeuticas”.
E vocês, já passaram por um dilema semelhante? Em que têm dois caminhos à frente e, seja qual for que seguirem, há sempre algo a ganhar, mas também a perder? Conseguiram encontrar a solução dentro de vocês mesmos?
Se quiserem ouvir-me a contar esta história, podem fazê-lo no YouTube, Instagram ou Facebook.
Um dia o Pedrinho perdeu a sua bola. A princípio ficou desesperado.
Dias depois sentiu-se, afinal, liberto: já não o acompanhava o medo constante de a perder.
© Isa Lisboa
Todos os dias, quando passava naquela rua, o vento levantava-se. Era forte, tão forte, que era preciso um grande esforço para resistir e avançar.
Um dia, num impulso, parou de resistir: sentiu que voava nas asas do vento, o frescor na cara, o ar nos cabelos.
Afinal, sempre fora águia.
© Isa Lisboa
Svetlana Belyaeva