On the edge

Imagem: pixabay.com

This is me again

On the edge of myself

As if a stranger

Asking for shelter.

The trip is long

It always is

But departure calls

Whenever

A road reaches an end

Even though there is

No sign

Past and future

Merge

But they are alike

And one must go

Without the other.

Moving along

This is me again

On the edge of myself.

© Isa Lisboa

Podar

Tenho um pequeno jardim na minha varanda. E hoje foi dia de podar e de tirar ervas daninhas.

Passado o inverno, um período de frio, chuva e outros desafios, as plantas apresentam algumas marcas desse tempo. Folhas secas, talos secos ou a apodrecer.

Mostrando a outra faceta da natureza, algumas folhas novas começam a nascer.

Na natureza não manipulada, as folhas e galhos mortos acabariam por cair, abrindo espaço às novas folhas e caindo no chão, tornando-se fertilizante da planta onde antes estavam.

Neste caso, eu dei uma ajudinha ao processo. Para o tornar mais fácil. Ajudar as plantas a adaptarem-se, uma vez que o vaso não é o seu ambiente natural.

Ao olhar para o que sobrou, os galhos e folhas cortadas, senti que também algo em mim precisa ser podado. Não sei exatamente o quê, neste momento. Mas sinto-o à espreita, prestes a partir e a cair no chão, para fertilizar o que a seguir virá.

Acredito que todos passamos por fases destas, de tempos a tempos. De poda. De fim de ciclo.

E quando um ciclo termina, temos de o deixar ir. E mantermo-nos abertos ao que virá. Mesmo que, como agora, certezas haja poucas.

Olho pela janela e o dia está bonito, o sol entra pela minha sala e aquece o ambiente, ilumina o caderno onde escrevo. O céu está azul e as nuvens brancas parecem fofas e leves.

E hoje, agora, não devo aproveitar este tempo. Mas a vista da minha janela, a mistura destas cores com outros verdes, lembra-me de como a natureza é, também ela cíclica.

Ainda ontem chovia. Hoje está sol. Hoje foi dia de poda. Amanhã, ou daqui a uns dias, talvez encontre um rebento novo, que hoje me escapou.

Um grupo de pássaros acabou de passar, num voo sincronizado.

Vou fechar o caderno e pousar a caneta. Por hoje. Por agora. Há sempre mais dias para escrever.

© Isa Lisboa

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Acender uma vela na escuridão

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Em tempos que falta a luz, resta-nos acender uma vela, para cortar um pouco da escuridão.  Para nos permitir ver que ainda há um caminho, mesmo que não seja tempo de caminhar.

Acender uma vela em nós mesmos pode revelar-se a tarefa mais difícil que encontramos. Mas só assim saberemos o tamanho da escuridão.

E a escuridão dá medo, lembrando quando éramos crianças e os monstros se escondiam, à noite, nos cantos mais escuros da casa.

Crescemos, e a escuridão passa para aqueles momentos da vida em que tudo parece impossível, irreal e surreal.

Mas na verdade, a escuridão é a perda da esperança e a perda da fé em nós mesmos.

E a escuridão é também a cegueira de não querermos olhar para nós mesmos e ver. Ver os passos que demos e nos levaram ali. Ou os passos que não demos agora para sair.

Porque é preciso muito mais coragem para aceitarmos a nossa quota-parte no nosso destino, do que o é para amaldiçoarmos a escuridão.

Aquele canto escuro, onde nos escondemos, enrolados sobre nós próprios, com pena de nós mesmos… Esse canto, é a verdadeira escuridão, a que escondemos dentro de nós.

E se nos apegarmos demasiado a esse canto, facilmente nos esquecemos de que a escuridão não existe sem a luz: antíteses complementares que se completam.

Basta um passo, basta lembrar, acreditar. Acreditar na luz que nunca se extingue. Mas também acreditar na escuridão que sempre a acompanha.

E, sobretudo, acreditar, lembrar, assumir, que a escolha entre uma e outra, é sempre e só, apenas tua. Em cada momento, em todos os momentos. Não escolhes só uma vez, porque a vida está sempre a pôr-te à prova.

A vida põe-te à prova para que possas reclamar um prémio: a tua essência, o teu ser mais puro, quem tu és. A vida põe-te à prova para que te descubras. E para que quando te encontres te possas reinventar. Hoje, amanhã, quando for.

O que vais escolher, agora?

© Isa Lisboa

Mudar de sapatos

Durante um tempo da nossa vida, precisamos mudar constantemente de sapatos. Com os pés em crescimento, depressa aquele número deixa de nos servir e temos que usar outro. Depois o corpo pára de crescer e aquele tamanho de sapatos deverá ser o nosso para o resto da vida.

E, se não tivermos cuidado, começamos a acreditar que tem que ser assim com tudo na vida.

Começamos a não ver as oportunidades de crescer, a deixá-las passar ao lado. A dizer – pior: a acreditar – que já não é para nós. Não queremos experimentar sapatos novos, porque aqueles assentam tão bem e são tão confortáveis.

Mais grave ainda, compramos cremes e outras panaceias para ajudar com as bolhas e calos, recusando-nos a admitir que é aquele par de sapatos que as está a causar. E os sapatos começam a apertar e a apertar, dificultando o caminhar. Podem até provocar um ligeiro, praticamente imperceptível, coxear.

Mas acreditamos que é preciso continuar, que tem que ser assim, que não há alternativa, que…

A pergunta que se impõe é: porquê? Porque é que tem que ser assim? Porque não podes descalçar-te e ficar um tempo a sentir a terra debaixo dos teus pés? Até decidires o que queres calçar agora. Depois podes até querer outros sapatos.

Às vezes a vida é assim. Porque não?

 © Isa Lisboa

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As asas de Ícaro

Skipholt (by)

A sombra –

Essa sedutora –

Roubou as asas de Ícaro.

Desamparado

Caiu

Anteveu o embate

Com a terra seca.

Doeram os músculos

Os ossos

E a pele rasgou.

O sol era um sonho

O que lhe deu asas

Foi o mesmo

Que as derreteu

Ilusões a escorrer

A pingar sobre a Terra

Onde o seu corpo

Caiu

Com vida, mas com dor.

Chamem-lhe soberba

Orgulho

O que for

A sombra sussurrou

Ao ouvido de Ícaro

Sobe

Acima do que és

Sobe

Sem olhar

Sobe até mais não.

Corpo caído

Dorido

Ferido

Dor em mais que corpo.

Uma mão passa-lhe

Na fronte

Água fresca

Nos lábios.

A Sombra

Roubou as asas de Ícaro.

Mas o Amor

Devolveu-lhe a vida.

© Isa Lisboa

Faith

No.

I’m sorry to say

No,

Nobody is coming

To save you.

No

There is no one

For you to save.

It is only you

It is up to you to save yourself

You are the one.

Whether in a white horse

Or not

You are the one

Waiting

To be saved

You are the one

To be rescued

And you have it in you

That power

To bring

Yourself back up

To wipe

Your own tears

To look at yourself

In the mirror of the soul

And see.

See what was it

That you did wrong

See what was it

That could not

Be avoided.

Fate and willpower

Walk hand in hand

Faith is the answer

In the Highest above all things

And in yourself.

Have Faith.

Rebuild yourself.

© Isa Lisboa

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Limpeza de Primavera (Republicação)

Apesar de já ser Outono, estou agora a terminar a minha limpeza de Primavera e além de limpar a casa, limpei também as minhas gavetas. E por isso, lembrei-me de dois textos publicados no meu antigo blog “Os dias em que olho o mundo“. Foram textos escritos e publicados em momentos diferentes, mas ambos falam sobre elas, as gavetas.

Limpeza de Primavera 

Limpeza de Primavera. É um ritual que tendemos a seguir todos os anos, com mais ou menos profundidade. Por vezes apenas mudamos a roupa de Inverno para o fundo dos armários e gavetas e trazemos para mais perto a roupa mais fresca.

Outras vezes, precisamos ir mais além e libertar espaço. Algumas roupas, papéis, acúmulos diversos, vão sendo tirados do sítio onde os deixámos esquecidos. Percebemos, quando lhes pegamos, que são roupas que já não nos servem, ou que já não dão bem connosco. Papéis que já não nos dizem nada e que já nem sabemos bem porque guardámos. Decidir que é hora de os deitar fora, nem sempre é fácil. Aquele item já não nos serve, mas serviu durante tanto tempo, será que é boa ideia deitar fora? E se eu ainda vier a precisar dele? Agora não preciso, já não preciso há muito tempo, mas quem sabe, não é? E aquela camisola, é quentinha, já há muito tempo não a visto, mas é quentinha, aqueceu-me em alguns invernos, que desperdício parece deitá-la fora.

São dúvidas que assaltam as limpezas de primavera, mas quando decidimos deixar ir aquilo de que já não precisamos, descobrimos que os armários ficam mais leves. As gavetas já vão fechar mais facilmente e os armários já não nos parecerão atafulhados.

E, mais importante que isso, ficámos com espaço para coisas novas. Talvez agora possamos comprar um vestido novo, aquele que vimos na montra, mas que achámos “oh, já tenho tanta roupa!” E quando o formos experimentar, talvez até iremos descobrir que nos fica bem e que nos faz sentir ainda melhor vermo-nos com ele. Ou talvez decidamos apenas aproveitar por mais tempo o espaço agora livre.

Também assim é com o nosso coração, com a nossa alma. Quando percebemos que existem sentimentos, mágoas, hábitos, situações, enfim até pessoas, que nos prendem, demos o primeiro passo. Mas talvez alguns desses sentimentos ou situações sejam como aquela camisola que não sabíamos se devíamos deitar fora. Durante vários invernos vestiram-nos, aqueceram-nos, protegeram-nos até! Sentimos de alguma forma que estamos a ser ingratos, agora, querendo mandá-los embora. E eles parecem lembrar-nos de que precisámos tanto deles no passado. Agora não preciso, dizemos nós. Mas podes precisar de novo, és frágil, dizem eles.

Sejamos, no entanto, verdadeiros connosco: tal como a camisola, se já não somos felizes com eles, porquê mantê-los por perto? Seremos mesmo frágeis ou eram essas vozes que nos faziam frágeis? Não seriam essas vozes apenas analgésicos, que nos impediam de querermos arrumar o armário da nossa mente e do nosso coração?

Se reconhecemos que acumulámos “tralha” emocional, está agora na altura de a deixar ir. Sem amargura e sem olhar para trás. Não interessa a voz que diz que não conseguimos. Ela está apenas com medo. Por isso se debate. Porque sabe que agora estamos mais fortes, depois de a termos reconhecido e de termos percebido o quanto dela não somos nós.

Vamos deixar ir tudo o que já não precisamos. Ficaremos mais leves. Mais felizes. E pensem no espaço que ficará para o novo!

© Isa Lisboa

Sem sequer pensar…… (Republicação)

Apesar de já ser Outono, estou agora a terminar a minha limpeza de Primavera e além de limpar a casa, limpei também as minhas gavetas. E por isso, lembrei-me de dois textos publicados no meu antigo blog “Os dias em que olho o mundo“. Foram textos escritos e publicados em momentos diferentes, mas ambos falam sobre elas, as gavetas.

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Sem sequer pensar……

Metade da minha vida estava dentro de uma gaveta. Vi quando ia guardar lá mais um pedaço e a gaveta já não fechou. Fui amontoando pequenos vestígios, um a um, sem tempo para os arrumar no local devido.

Obrigou-me a parar. A gaveta ficou vazia e tudo nos seus lugares.

Mas sei que a gaveta não vai ficar sempre vazia. Mesmo sem me aperceber, vou abri-la muito rapidamente, sem sequer pensar, e vou esconder lá dentro tudo o que não tenho tempo de guardar.

Até não conseguir fechá-la novamente.

Raízes

Há dias decidi mudar de vaso uma das plantas da minha varanda. Era uma tarefa que tinha vindo a adiar… O vaso estava já meio partido, já há algum tempo que a terra daquela planta não era trocada. Precisava mesmo do transplante. Mas a planta continuava a aparentar estar bem, continuava verde, parecia saudável. Não me parecia urgente.

Mas ao libertá-la finalmente daquele vaso, vi que que a sua base se tinha tornado num vaso de raízes. Pesadas. Apertando-se umas às outras. Pareciam sufocar a própria terra, a tal ponto que parecia não haver espaço para ela. E algumas das raízes estavam secas e sem vida. Puxei-as, e algumas cederam com facilidade. Assim encontrei também espaço para retirar a terra que envolviam.

Neste momento, a planta já está num vaso novo, com terra nova. E, parece-me a mim, mais feliz e mais saudável. Com as raízes que estavam saudáveis. Que parecem estar a fincar-se bem à terra. Pelo sim, pelo não, vou dando uma vista de olhos mais atenta nos próximos tempos.

E, enquanto isso, parti o meu próprio vaso e ando à procura das raízes que já não são minhas e que já não levam a seiva. Depois é só ter força para as arrancar.

 —

 Este texto foi escrito em Maio de 2014 e foi publicado originalmente no meu blog Os dias em que olho o mundo. A planta que na altura transplantei continua, feliz e viçosa, no seu novo vaso.

E eu, ao longo deste tempo encontrei algumas das tais raízes que já não eram minhas. Que já não me alimentavam. Que apenas me estavam a prender a lugares, pessoas, recordações e emoções que já não eram minhas. Algumas não tive dificuldade em cortar. Aceitei rapidamente que um dia tinha precisado delas, mas que já não faziam parte de mim.

Quanto a outras ainda, o processo foi doloroso. Realmente precisei de força para as arrancar. Foi preciso olhar bem para elas, entendê-las bem, perceber porque se tinham ali formado. Libertar-me da culpa de as ter deixado sufocar as outras raízes. Essas, as mais fundas, as que tinham deixado mais marcas, não queriam sair. Resistiram. E eu também resisti. Pode parecer contraditório dizer que tive dificuldade em me libertar de coisas de que já não precisava. Mas digo-vos mais: já não as queria. E ainda assim, não foi de um dia para o outro que as deixei ir.

Nesta jardinagem de mim mesma, entendi que as raízes gastas se estendem a locais que julgamos inacessíveis. E, aí presas, sussurram-nos palavras – umas vezes doces, outras vezes duras – que procuram prender-nos lá com elas. Aprendi que a dor tem medo da solidão. Por isso nos alicia a ficarmos abraçados a ela, a nos deixarmos abraçar por ela. Mas que quando a olhamos nos olhos, sem medo, e entendemos porque ela está ali; é aí que ela perde toda a sua força.

Aprendi que precisamos ver algumas das nossas raízes cortadas, para crescer como realmente somos.

E que, tal como as plantas da minha varanda, precisamos jardinar a nossa alma com frequência. Alimentá-la, deixá-la ver a luz e não deixar que a terra sob os nossos pés não nos deixe abrir os ramos até onde queiramos ir.

 © Isa Lisboa

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Imagem: Pintrest