Tenho um pequeno jardim na minha varanda. E hoje foi dia de podar e de tirar ervas daninhas.
Passado o inverno, um período de frio, chuva e outros desafios, as plantas apresentam algumas marcas desse tempo. Folhas secas, talos secos ou a apodrecer.
Mostrando a outra faceta da natureza, algumas folhas novas começam a nascer.
Na natureza não manipulada, as folhas e galhos mortos acabariam por cair, abrindo espaço às novas folhas e caindo no chão, tornando-se fertilizante da planta onde antes estavam.
Neste caso, eu dei uma ajudinha ao processo. Para o tornar mais fácil. Ajudar as plantas a adaptarem-se, uma vez que o vaso não é o seu ambiente natural.
Ao olhar para o que sobrou, os galhos e folhas cortadas, senti que também algo em mim precisa ser podado. Não sei exatamente o quê, neste momento. Mas sinto-o à espreita, prestes a partir e a cair no chão, para fertilizar o que a seguir virá.
Acredito que todos passamos por fases destas, de tempos a tempos. De poda. De fim de ciclo.
E quando um ciclo termina, temos de o deixar ir. E mantermo-nos abertos ao que virá. Mesmo que, como agora, certezas haja poucas.
Olho pela janela e o dia está bonito, o sol entra pela minha sala e aquece o ambiente, ilumina o caderno onde escrevo. O céu está azul e as nuvens brancas parecem fofas e leves.
E hoje, agora, não devo aproveitar este tempo. Mas a vista da minha janela, a mistura destas cores com outros verdes, lembra-me de como a natureza é, também ela cíclica.
Ainda ontem chovia. Hoje está sol. Hoje foi dia de poda. Amanhã, ou daqui a uns dias, talvez encontre um rebento novo, que hoje me escapou.
Um grupo de pássaros acabou de passar, num voo sincronizado.
Vou fechar o caderno e pousar a caneta. Por hoje. Por agora. Há sempre mais dias para escrever.
© Isa Lisboa