Gigantes

Que maior gigante haverá que aquele que pequeno se vê?

Pois que maior dádiva haverá, que sabendo correr, se abrande a marcha? Se pegue nas mãos que se abrem e se levem ao longo do caminho? O caminho que já se sabe ser belo, mas que outros precisam descobrir. Que maior dádiva, que ver alguém crescer?

Quem se tendo aproximado das nuvens, se volta de novo à Terra, nela finca raízes; porque será que vem, senão para distribuir a luz que descobriu? Que maior generosidade há, que partilhar a felicidade e a glória mostrando o caminho, o caminho ao alcance de todos.

Os gigantes não cabem na terra, e por tal, pequenos nascem, para a todos mostrar como podem crescer. Na escuridão acordam, para lembrar como acender a luz e a outros mostrar a lanterna acesa.

Que maior gigante haverá, que a criança que quer crescer?

 © Isa Lisboa

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Cicatrizes

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Foto: Autor não identificado

Vivemos numa sociedade que não gosta de cicatrizes. Cicatrizes nas suas variadas formas. Físicas e emocionais.

É verdade que tanto umas como outras representam uma dor vivida, e talvez por isso nos seja tão difícil encarar essa marca – em nós e nos outros.

Mas também é verdade que as nossas cicatrizes contêm a nossa história. E ainda que ela tenha sido dolorosa, faz parte de nós. Tudo o que nos acontece vem com o intuito de nos ensinar algo ou de nos fazer crescer e experienciar o potencial da vida. Aquilo que acredito ser o sentido da vida.

Por vezes estas cicatrizes são memórias que guardámos no sótão do nosso coração, memórias dolorosas. Não vale a pena remetê-las para um baú fechado no canto mais escuro desse sótão. As memórias não se calam nem se amordaçam. Devemos antes aceitá-las como parte de quem fomos. Deixando de fugir delas e de lhes resistir, poderemos entender o que elas nos ensinaram, e em que medida nos tornaram mais fortes. Aprendida a lição e, ultrapassado o obstáculo, estamos então prontos para o que vem a seguir.

Porque algo vem a seguir. Sempre.

Há alguns anos atrás, numa feira de rua, comprei um livro em segunda mão. Ao chegar a casa, quando ia arrumá-lo, um bilhete caiu. Tinha escrita à mão, uma simples frase: “Tudo ainda está para vir.” Sentia-me numa fase de recomeço de ciclo, tinha feito algumas mudanças na minha vida. Foi, para mim e naquele momento, uma mensagem de esperança e uma indicação de que estava no caminho certo.

E, agora que tudo muda de novo, sei que estava. Percorri o caminho que precisava percorrer, para entender em pleno as minhas cicatrizes e para poder afirmar que elas são apenas uma pequena parte da história; mas que a história que se escreverá daqui para a frente será pelo meu punho, com a minha caneta. Como deve sempre ser.

E tudo continua ainda por vir.

© Isa Lisboa

Decisões, ah, as decisões!

Decisões: são tão difíceis de tomar, não é?

São difíceis de tomar porque, de uma forma geral, implicam uma escolha. E quando escolhemos virar à direita em vez de à esquerda, sabemos que não escolhemos apenas o que vamos encontrar no caminho da direita. Também escolhemos abdicar do que poderíamos encontrar à esquerda.

E é quando pensamos demasiado nisso que a dúvida entra e começa a instalar-se; segredando-nos razões para a direita num ouvido e razões para a esquerda noutro.

Em ambos os ouvidos fica a ideia de algo que pode ser perdido. E a verdade é que a ideia de perder algo sempre nos causa – no mínimo – um certo desconforto.

Não está errado. A verdade é que ninguém gosta de perder – nem a feijões, como se diz. Mas em certas circunstâncias temos que aceitar que a perda é necessária e o melhor para nós, em muitas (se não todas) as situações. Neste caso, do outro lado da perda está o troféu com o que temos a ganhar com a escolha feita.

É verdade que podemos ter feito antes más escolhas e, portanto, ao ter que tomar uma nova decisão, é o medo que agora se instala. E se fizermos tudo de novo?

Poderá ter sido errado no passado, mas teve certamente um efeito; o de nos ensinar algo. Algo que nos tornou diferentes. A cada lição aprendida tornamo-nos mais aptos e mais fortes. Por isso, quem decidiu ontem, já não caminha hoje com as mesmas botas e, mesmo que o Caminho pareça igual, não o é. A pedra já antes levantada com sucesso, não será agora obstáculo, e a poeira já sacudida, atrás ficou.

Ainda que o caminho pareça igual, descobriremos que não é mais do que uma oportunidade de, com as pernas ora mais fortes, desta vez sermos nós a fazer o Caminho e a traçar o trilho.

Ainda assim, sabendo tudo isto, a questão continuará a existir: “O que decidir?”.

Acredito que há uma parte de nós que sabe sempre a resposta: o nosso coração!

Sentir o que ele nos diz abrirá todas as portas certas. Sejam elas apenas duas ou mais, o coração pergunta: “O que te realizaria mais? O que vai de encontro ao que sentes ser a tua missão?”

Nunca nos esqueçamos de focar no que alimenta a nossa alma. Isso levar-nos-á ao caminho certo.

Foi isto que o meu coração disse.

 © Isa Lisboa

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Foto: http://www.pixabay.com

E o copo?

Be Still And Know by Melanie Crawford

Imagem: Be still and know, by Melanie Crawford

Há algum tempo atrás, em conversa com uma amiga, falei do conhecido copo, aquele que uns vêm meio cheio e outros meio vazio.

De imediato, seguindo talvez o seu espírito matemático, ela atalhou a conversa, evidenciando que meio é meio, e isso basta.

Eu, que também sou matemática, sei que ela tem razão: se o copo tiver uma capacidade de 0.5l e tiver 0.25l de água dentro, então está meio. É matemático.

Mas, sugere a física quântica que o olhar do observador altera a realidade que é observada.

E todos nós temos, mais ou menos e, mais ou menos inconscientemente, a vontade de classificar aquilo que vemos. Por isso, quando olhamos para o copo meio de água, podemos concentrar a nossa atenção na metade que tem água ou na metade que tem ar – meio vazio.

Pessoalmente sempre procurei ver a metade cheia de água. Não por acreditar que sempre conseguirei encher o copo. Por vezes ele ficará sempre meio cheio apenas. Também pode acontecer que a água se evapore lentamente (especialmente quando não a aproveitamos para matar a sede). Ainda algumas vezes, havemos de derramar a água, num toque de mão impensado ou irreflectido. Não, o copo nem sempre se encherá.

Mas – é aqui que para mim reside a beleza da metáfora – se está meio, tanto pode esvaziar como encher. E poder encher é uma possibilidade que vale a pena olhar, sempre que ela existe.

Ora, se o copo está meio cheio, só me falta meio caminho para o encher. Se está meio vazio, então estou mais longe. E também estou mais perto do fundo do copo. E seja em que situação for, opto pelo caminho que mais facilmente me traga à tona para melhor respirar.

Mas não foi por isso que me recordei desta conversa. Subitamente pensei: E o copo?

O que será o copo no meio desta metáfora? Pode ser um objecto, uma situação específica da nossa vida, um momento…

Mas, e se o copo formos nós? Se o copo for eu? E se fores tu?

Eu já sei a resposta à pergunta. E tu? Estás meio cheio ou meio vazio?

© Isa Lisboa

Decisões

“Há uma anedota Zen sobre uma mulher, que não conseguia decidir-se por qual porta deveria sair de certo aposento. Ambas as portas levavam ao mundo exterior. Após algumas horas de indecisão, ela empilhou algumas esteiras diante de uma das saídas e caiu em um sono profundo. De manhã cedo, levantou-se e examinou o mesmo problema novamente. Uma das portas estava livre, mas a outra estava bloqueada por uma pilha de esteiras. Ela suspirou finalmente: “Agora eu não tenho escolha.”

Autor: Não identificado