Os ciclos da natureza são bem conhecidos. Existe a época de semear, de crescer, de amadurecer, de colher e, finalmente, de descansar e regenerar. As quatro estações retratam estes ciclos, ainda que não sigam à risca o calendário gregoriano.
As plantas e o seu cultivo são um bom exemplo destes ciclos. E, na agricultura, sabe-se que cada planta tem a sua época de plantio. Mas existem algumas plantas que podem ser plantadas em mais que uma estação do ano.
Também nós, humanos, somos assim, como as plantas. Algumas coisas na nossa vida precisam esperar pela altura certa para serem plantadas. Mas outras há que podemos ir plantando, quando a terra e a temperatura se afiguram boas, ou seja, quando a oportunidade o pede.
Mas certo é que não devemos plantar na época do descanso. Nessa altura, o frio não permitirá que a semente germine. E o nosso cansaço poderá levar-nos a lançar a semente à terra, sem ver. Sem ver aonde lançamos a semente. E sem respeitar o espaço entre uma semente e outra. O espaço que irá permitir às plantas do futuro respirar, crescer e alargar.
A época de descanso é a época em que fazemos uma pausa. Para recuperar forças, mas acima de tudo, para recuperar da época da colheita. E precisamos deste intervalo quer a colheita tenha sido má, quer a colheita tenha sido boa. Precisamos deste intervalo quer seja para saborear os frutos, quer seja para lamber as feridas.
Certo é também que tens que plantar. Se não plantares, não colherás. Ficarás limitada aos frutos que aparecerem. Frutos de alguma semente perdida no vento, ou de alguma semente que alguém deixou para trás. E esses frutos matam a fome, mas não alimentam. E tu queres alimentar-te, não é? Não te chega matar a fome, calar o estômago. Queres trincar um fruto doce e sumarento, queres lambuzar-te. Queres comer aquele fruto de que gostas mesmo, descobri-lo como uma criança desfruta de um gelado.
É isso que queres colher? Então tens que plantar. Mãos à obra. Arregaça as mangas e começa. Tens que cuidar da terra, escolher as melhores sementes, tens que ir buscar água fresca para regar e fertilizante para ajudar.
E depois… tens que ter paciência. Algumas espécies de plantas começam a brotar rapidamente, mas por outras tens que saber esperar. Esperar que brotem, que cresçam, que deem flor e, finalmente, o fruto. E quantas vezes os primeiros frutos não são pequeninos, e apenas um ou dois? Algumas demoram a carregar de frutos. Mas se provares esse primeiro fruto, sentirás já o doce sabor, o néctar que tanto procuras.
Tens que ter paciência. Continuar a cuidar da tua árvore, regá-la, fertilizá-la, tirar-lhe as folhas mortas. Tens que a mimar, falar-lhe, dizer-lhe o quão importante ela é para ti. O quanto queres provar do seu fruto. O quanto lhe estás grata(o) por ela estar, neste momento, a fabricar os frutos que vais colher. Tu não vês, mas a seiva que circula no caule dessa árvore, vai ser um pedaço do fruto no futuro. Vai ser um fruto grande, sumarento, doce. O fruto que vais colher.
Tem paciência. Fertiliza. Rega. Planta.
Já plantaste hoje?
© Isa Lisboa