
“Meu Deus, dai-me paciência e dai-ma já!” – esta é uma das frases que encontrei para, como um certo toque de humor, descrever o meu signo: os arianos.
Se é verdade que em algumas situações sempre fui descrita pelos meus amigos como sendo paciente, não é menos verdade que acabei por constatar que tenho o meu lado impaciente. Descobri em mim uma certa impaciência, da qual o principal alvo é, nada mais nada menos, do que eu própria!
Na minha actividade profissional diária, assumo uma margem de erro nas estimativas que faço, nas deadlines que assumo e nas expectativas que crio. Porque, com o tempo, entendi que não posso controlar todo o processo e que, por isso, devia aceitar plenamente e tranquilamente, a maior variável com a qual lido no meu trabalho: a incerteza.
A incerteza não quer dizer que tudo irá correr mal. Ou que devíamos permitir propositadamente ou com leveza que tudo corra mal. Mas a incerteza existe e, nas ciências actuariais e estatísticas, como na vida, temos que contar com ela e estar preparados para que ela nos surpreenda.
Mas, comigo mesma, comecei mais recentemente a aprendizagem da perfeita imperfeição. Permitirmo-nos a nós mesmos errar é algo que não é fácil. Pelo menos para mim não tem sido fácil.
No entanto, quando fiz a mim mesma a pergunta: “Se os outros podem errar, porque é que tu não podes?”, surgiram-me algumas respostas. Mas, ao nível racional, não faziam muito sentido. Ao nível emocional, faziam ainda menos. Foi aí que admiti que talvez, talvez, me fosse permitido errar de vez em quando.
E à medida que fui aprendendo a tolerância comigo própria, vi que, se já me permitia errar, ainda me era difícil permitir não conseguir fazer algo ou não o conseguir fazer com a rapidez com que eu achava que tinha que acontecer. Fosse nos meus projectos internos – de crescimento pessoal, emocional e espiritual – fosse nos meus projectos mais visíveis. Se algo precisava ser mudado, então vamos lá mudar isso e o mais rápido possível.
Mas não é bem assim.
Imaginemos que somos uma casa. Somos uma casa e queremos mudar a mobília de uma divisão. Ora, para isso, não basta sair e ir comprar a mobília nova.
Primeiro, há que retirar a mobília antiga. Decidir o que fazer com ela. Será que tem que ir toda embora, ou existem algumas que queremos ou ainda precisamos que fique? E algumas, não poderão ser renovadas ou ser-lhes dado novo uso ou uma cara nova? Esta separação, recomendo que seja feita com tempo e com olhos que reconhecem que aquela mobília foi nossa durante um tempo e que, a um outro nível, nos trouxe conforto. Talvez até não a tenhamos escolhido, mas foi nossa durante um tempo. E, por isso, encerra memórias e histórias.
Depois de feita esta separação, e liberta a divisão do que realmente já não queremos, podemos aproveitar para aquela limpeza mais profunda. Aquela que não temos tempo para fazer no lufa-lufa do dia-a-dia. Abrir as janelas, arejar a divisão e deixar entrar o sol. Deixá-la apreciar por um pouco a quietude do vazio.
E agora então podemos escolher a mobília nova e recomeçar a mobilar. Mas talvez não seja preciso mobilar tudo de uma vez só. Como da primeira vez, em que fomos comprando tudo aos poucos. Uma peça de cada vez.
Assim a divisão pode adaptar-se ao que vem de novo. E nós podemos apreciar o processo de procurar, desejar e apenas depois achar.
Numa sociedade cada vez mais instantânea, vamos, sem perceber, perdendo este sabor, de deixar fluir e de dar um passo de cada vez, confiando que o tempo certo é o que nos faz mover e não o que nos faz correr até à exaustão.
E a sabedoria de saber agir, mas de reconhecer também o momento em que é preciso esperar. Esperar que o leite ferva e que o bolo cresça.
Estes foram dois textos muito interessantes que li sobre o assunto. Num (aqui), a autora conta como, quando era menina observou que, se ficasse ao pé da cafeteira do leite, ele não fervia. Só quando ela se afastava do fogão, ele fervia e transbordava. No segundo (aqui), o tempo transforma-se num bolo, em que primeiro precisamos fazer a massa, untar a forma e colocar no forno. E aí, que já fizemos o que tínhamos a fazer, precisamos deixar que o forno coza o bolo, na temperatura certa. Aumentar o calor, estragaria o bolo. Retirá-lo antes do tempo, significaria comer o bolo cru.
Deixo-vos agora com as minhas divagações. Acho que ouvi um barulho vindo do fogão e também já cheira bem pela casa toda.
Acho que estou a ficar melhor nisto de fazer bolinhos com leite para o lanche.
© Isa Lisboa