Queres mesmo ser feliz?

Gosto do objetivo de ser feliz. É um bom objetivo a ter em mente a cada novo dia.
Procurar sempre a felicidade, parece-me uma boa demanda. Mas ter que ser sempre feliz, é apenas mais uma forma de ser infeliz sem o saber. Ou sem o querer admitir.
Explico. Tempos difíceis sempre existirão. E tristeza, angústia, preocupação são reações normais e expectáveis nessas situações. Há uma diferença entre reagir a essas situações, procurando melhorá-las, e entre dizer que está tudo bem – quando não está.

Acredito no otimismo como força construtora e reformadora. Mas, para mim, otimismo é acreditar que tudo pode ficar melhor, acompanhando esse sentimento de ação. E de reconhecimento.

Ficarmos agarrados ao martírio, à sensação de que o Destino nos fintou e nada ficará, nunca, jamais, bem… Isso não ajuda. Só vai empurrar-te para baixo. Na melhor das hipóteses, não vai deixar-te sair do sítio.

Mas ficar agarrado à sensação de que está tudo bem, mesmo quando não está, é igualmente um obstáculo. Esperar que tudo melhore milagrosamente, só te tira oportunidades. Oportunidades de criar resiliência, por exemplo. Antes pelo contrário; quando o tal milagre não acontece, o mundo desaba e o abismo fica assustadoramente mais perto.

Obrigares-te a estar sempre feliz, priva-te de ver aquilo que já não queres para ti, o que já não te faz bem.

Estares sempre à espera de um milagre, priva-te de veres que o milagre és tu. A tua capacidade de te reinventares, de lutares, de reagires.

Procura ser feliz, não deixes que te digam que não podes sê-lo. Mas também não deixes que te digam que tens que ser sempre feliz.

Permite-te sentires-te triste, mas não permitas que a tristeza fique para sempre. Deixa que ela fale contigo, mas responde só quando ela merecer resposta.

Não tens mesmo que ser (sempre) feliz. Mas podes escolher ser feliz. Podes escolher ser (realmente) feliz.

© Isa Lisboa

Imaginação de Einstein (E outras divagações)

“É mais importante ter imaginação do que conhecimento.”

Albert Einstein

Sem dúvida que o conhecimento é importante. Sem ele, o mundo não conheceria o progresso, as revoluções científicas.

Alguns argumentarão que, sem o conhecimento, ainda viveríamos em cavernas.

Mas também me parece que foi a imaginação que nos tirou de lá.

Devem ter existido mentes que imaginaram uma vida diferente da de sobrevivência diária. Uma vida diferente de caçar ou ser caçado.

E deve ter havido quem se atreveu a testar essa imagem imaginada. Essa vida utópica, que a tantos parecia impossível.

Essa coisa de “ser feliz” devia parecer ainda mais estranha no tempo das cavernas. Mais estranha do que é hoje.

Sim, porque ainda hoje nos sentimos tentados a acreditar que, ou caçamos ou somos caçados. Que ganhamos ou perdemos.

Mas ganhamos o quê? Que prémio é esse? Sabes qual é esse prémio pelo qual tanto lutas? Esse prémio em nome do qual te esqueces de ti, dos teus valores, dos teus desejos? Esse prémio em nome do qual passas por cima de todos os que são fracos (ou assim os julgas tu)? Sabes?

Quando corres, sabes para onde? Sabes se realmente vale a pena correr e se queres até correr? E se estiveres a correr só por habituação? Ou porque julgas que tens uma meta a cortar?

Pois é, essa coisa de ser feliz ainda parece meio estranha. E custa pôr o nariz de fora da caverna, não é?

Divago? Ah, imaginação a mais.

Dirão alguns. Dirão alguns, de lá de dentro da caverna.

© Isa Lisboa

Qual a velocidade do teu piloto automático?

Lembro-me de ter visto no Facebook um post cómico, com uma imagem que dizia algo como “Amanhã, das 10h às 12h, estarei a vender limonada, à porta da minha casa. Preço: 1€ por copo.” Seguiam-se comentários como: “Quando?”, “Onde?”, “A que horas?”, “Qual é o preço?”.

Este era um post cómico, mas que é, na verdade, bastante real. Vejo muitas vezes este fenómeno, de ver, ler e ouvir em cruz, sem realmente absorver a mensagem, sem se dar tempo de a entender.

Nas redes sociais, já o vi várias vezes em páginas e grupos. Já me aconteceu ter comentários na minha página em que percebi que apenas a primeira frase tinha sido lida e, por isso, a mensagem do texto havia ficado perdida no éter social.

Mas se as redes sociais nem sempre espelham a vida, também podem ser um micro-cosmos dela.

Parece-me ser este um dos casos. Viver em piloto automático é tentador. A sociedade actual incentiva-o. Precisas fazer, e fazer instantaneamente.

Temos muitas opções de fast food, mas assim como podemos escolher o alimento para o corpo, também podemos escolher o alimento para a mente e para o espírito.

Pergunta-te a ti mesmo(a): queres alimentar a mente e o espírito com comida pré-cozinhada e pronta para o micro-ondas? Ou preferes uma refeição acabada de fazer, ainda que te dê mais trabalho?

Em função da tua resposta, escolhe a velocidade do teu piloto automático.

© Isa Lisboa

Iludidos, os mortais

E os Deuses a soltaram

À Felicidade.

Iludidos,

Os pobres mortais,

Pensaram que bastaria

Respirar…

E assim a apanhariam

Como se fora um vírus;

Mas que traria antes a vida

Não mais a tristeza que mata

Lentamente.

Iludidos

Pensaram que Tudo

Os Deuses lhe davam.

Não souberam ver

Que a Felicidade é

Um Tesouro

Que temos que encontrar.

© Isa Lisboa

Her Box (Victoria & Albert Museum, London)_takomabibelot

Imagem: Her Box (Victoria and Albert Museum)