
“No outro dia cruzei-me com o passado…”
Alguns completariam esta frase com algo como “e ele não me disse nada de novo!”. Outros talvez a completassem com palavras de saudade, outros de dor e outros com a nostalgia do bom e velho “Oh, tempo, volta para trás!”
Pessoalmente, já tive os meus momentos de debate com o passado, alguns foram debates acesos. Talvez deva chamar-lhes briga. A briga não era com o passado, era comigo mesma. Como se o passado fosse uma pessoa. E por vezes era. Uma pessoa. Pessoas. Momentos. Emoções complicadas, baralhadas, que eu ainda não conseguia ver em toda a sua profundidade. Que eu não sabia como sentir.
Aos poucos, comecei a substituir as brigas por conversas. Nem sempre chegavam ao fim. Nem sempre nos entendíamos, eu e essa pessoa que me falava em forma de passado. Mas lá nos fomos ouvindo uma à outra. Percebi quem ela era, o porquê das suas palavras, fui puxando um fio após o outro e com eles fiz uma nova tapeçaria.
Não são conversas que se esgotam, continuamos a conversar. Essa ela do passado ajuda-me ainda a compreender o meu presente. Ajuda-me a preparar um futuro diferente.
Mas também me lembra de todas as vitórias e de todas as alegrias. Porque também as tenho. Tantas. Cada uma tão especial. Um diamante que prendo à tal tapeçaria. Um diamante a reflectir a luz.
É uma tapeçaria redonda, esta do passado. Um círculo desenhado sem compasso, mas, para mim, perfeito. Os ciclos que se repetem, apenas para que deixemos por aquela curva quem já não somos, o que já não nos serve. Ou para percebermos que já deixámos. Apenas uma mensagem a lembrar-nos que somos capazes.
Mas nem sempre é fácil entender o que o passado tem para nos dizer. Pode ser um aviso. Para não repetirmos os mesmos erros. Ou pode ser um teste que colocamos a nós mesmos: será que deixei de vez o passado e consigo passar à frente sem olhar para ele?
Talvez nunca deixemos de fazer estas perguntas a nós próprios, em cada nova situação da vida. Pelo menos enquanto procurarmos percorrer um caminho que nos faça avançar.
Talvez nunca deixemos de fazer estas perguntas, mas, certamente, começaremos a dar-lhes respostas cada vez mais seguras e rápidas.
Porque a resposta nunca é a mesma. Ela depende da aprendizagem que se nos apresenta. E é difícil, por vezes perceber a resposta certa. Mas ao mesmo tempo é muito simples. Perguntem ao coração. Ele sabe sempre.
© Isa Lisboa