Em tempos que falta a luz, resta-nos acender uma vela, para cortar um pouco da escuridão. Para nos permitir ver que ainda há um caminho, mesmo que não seja tempo de caminhar.
Acender uma vela em nós mesmos pode revelar-se a tarefa mais difícil que encontramos. Mas só assim saberemos o tamanho da escuridão.
E a escuridão dá medo, lembrando quando éramos crianças e os monstros se escondiam, à noite, nos cantos mais escuros da casa.
Crescemos, e a escuridão passa para aqueles momentos da vida em que tudo parece impossível, irreal e surreal.
Mas na verdade, a escuridão é a perda da esperança e a perda da fé em nós mesmos.
E a escuridão é também a cegueira de não querermos olhar para nós mesmos e ver. Ver os passos que demos e nos levaram ali. Ou os passos que não demos agora para sair.
Porque é preciso muito mais coragem para aceitarmos a nossa quota-parte no nosso destino, do que o é para amaldiçoarmos a escuridão.
Aquele canto escuro, onde nos escondemos, enrolados sobre nós próprios, com pena de nós mesmos… Esse canto, é a verdadeira escuridão, a que escondemos dentro de nós.
E se nos apegarmos demasiado a esse canto, facilmente nos esquecemos de que a escuridão não existe sem a luz: antíteses complementares que se completam.
Basta um passo, basta lembrar, acreditar. Acreditar na luz que nunca se extingue. Mas também acreditar na escuridão que sempre a acompanha.
E, sobretudo, acreditar, lembrar, assumir, que a escolha entre uma e outra, é sempre e só, apenas tua. Em cada momento, em todos os momentos. Não escolhes só uma vez, porque a vida está sempre a pôr-te à prova.
A vida põe-te à prova para que possas reclamar um prémio: a tua essência, o teu ser mais puro, quem tu és. A vida põe-te à prova para que te descubras. E para que quando te encontres te possas reinventar. Hoje, amanhã, quando for.
O que vais escolher, agora?
© Isa Lisboa