In the Bookshelf – Meditações, Marco Aurélio

Meditações, Marco Aurélio

Voltando à partilha das minhas leituras, hoje partilho este pequeno livro, cheio de ensinamentos: Meditações, de Marco Aurélio. Este livro reúne uma série de reflexões pessoais do imperador Marco Aurélio, onde ele partilha as suas ideias sobre a filosofia estóica.

Decidi ler este livro de uma forma diferente da habitual. Em vez de o ter “de seguida”, fui lendo duas ou três páginas por dia, sendo ele a minha primeira leitura do dia. Este momento revelou-se ser uma forma muito boa de começar o dia. As reflexões de Marco Aurélio continuam atuais e podemos extrair delas muito bons conselhos para aplicar na nossa vida.

E tu, já conheces este livro?

© Isa Lisboa

De volta ao normal

Imagem – Pixabay
Foram semanas estranhas, estas. Foi-nos pedido para fazermos o esforço de mudar os nossos hábitos. Para mudarmos a forma de estar, de interagir. Estranhámos, mas tentámos.
A princípio não sabíamos bem como fazer, mas até nos fomos habituando.
Era estranho olhar para as ruas, pegar no telemóvel e ver aquelas imagens.
Sugeriram-nos até que desligássemos os telemóveis, mas isso pouco pegou. Precisávamos partilhar as fotos, mandar mensagens para perceber como os amigos estavam a lidar com aquilo tudo.
Não muito bem, pelo menos não todos. Foi uma mudança muito abrupta.
Ir ao supermercado foi a experiência mais estranha para mim. Custava-me entender a organização das prateleiras e distinguir as marcas e os preços. Online é muito mais fácil fazê-lo. E foi uma aventura manobrar o carrinho. Enchi vários sacos e pareceu-me quase impossível arrumá-los no carro. Como farão os funcionários das entregas? Parece-me um talento!
Caminhar na rua até soube bem, embora tanto espaço aberto me tenha causado alguma ansiedade. Estou contente por poder voltar aos meus passeios curtos.
Já marcámos uma sessão de zoom para podermos falar mais naturalmente.
Estamos todos cansados de tantas semanas fora de casa. Com saudades da segurança das nossas quatro paredes. E da facilidade de abrir o computador e tratar de tudo à distância de um clique.
Hoje encomendei almoço no meu restaurante favorito. Devem ser eles a tocar à campainha.
E assim, finalmente, a vida volta ao normal.
 
© Isa Lisboa
 
[Texto resultante de um desafio de escrita]

Criando asas

Por vezes a vida apresenta-nos desafios. A resposta pode ser saltar e construir as asas na descida. Mas também pode ser parar e reflectir, de forma a encontrar a melhor forma de os ultrapassar.

E o que tudo isto tem de divertido é que ambas as reações podem estar certas, dependendo do contexto.

É por isso que a vida tem o seu quê de difícil e o seu quê de entusiasmante. Enquanto o coração se agita, estamos realmente a viver. E isso só pode ser bom.

Isa Lisboa

Amanhã

Amanhã vai ser como uma manhã de Abril. Vou renascer. Vou abrir os olhos e inspirar, tal como se fosse a primeira vez. Com curiosidade e com vontade de agarrar tudo aquilo que de novo se me apresenta.
Enquanto o mundo renasce, também eu vou reinventar-me.
Não, talvez o mundo não renasça amanhã, não é mesmo Abril; é quase Inverno. É suposto a vida dormir e não renascer…
Mas o mundo é cheio de surpresas. Segue os seus ciclos, mas ainda assim surpreende-nos.
Não obstante, amanhã é o meu dia. Não sei se estou preparada. Até acho quer não. Tenho borboletas no estômago. Devem ser pássaros, que as asas batem forte. É a antecipação. A antecipação que comprova que amanhã é dia.
Podia encolher-me num canto ou fugir para longe. Parte de mim, quer fazê-lo. Continuar assim. É confortável. Seguro.
Mas a outra parte de mim sabe que não dá. Não dá para virar a cara, todo o meu corpo quer avançar, todo o meu corpo quer que seja amanhã. Não sei o que me traz amanhã. Mas sei que é novo e que o preciso.
Talvez os sons, as cores, os cheiros pareçam demasiado a início e me assustem.
Mas depois vão tornar-se descobertas. E eu gosto de descobrir. Pegar, tocar, cheirar, ouvir, saborear.
Está na hora de voltar a descer para o mundo. As convulsões já as sinto. É a vida a avisar-me que vou renascer.
Amanhã vai ser como uma manhã de Abril.
 

© Isa Lisboa

Humores universais e como nos unem

Imagem: pixabay.com

Falei recentemente sobre uma piada que encontrei no Linkedyn, ligada ao teletrabalho. Já vi essa piada multiplicada, mostrando várias expressões usadas por quem teletrabalha e usa sistemas de vídeo – conferência para comunicar com os colegas.

Desta vez, fiquei a pensar no quanto somos parecidos. As frases estavam em inglês, mas eu e os meus colegas portugueses dissemo-las muitas vezes.

Numa mesma situação, as dificuldades e as reacções à mesma, parecem ser iguais, ou, pelo menos, muito parecidas.

Também durante a quarentena, muitos vídeos de humor a retratar a situação, mostram reações semelhantes em várias partes do mundo, pelo menos para aquelas pessoas que vivem em condições semelhantes.

Porque as circunstâncias da vida também condicionam estas reacções. Mas isso seria tema para uma grande reflexão, por si só.

Hoje apeteceu-me escrever sobre estes pedaços de humor universal que encontrei. Porque não é o humor que é universal, são as nossas emoções.

E, a esse nível, talvez estejamos todos no mesmo barco. Mesmo que a intensidade das emoções possa ser diferente, quer saibamos lidar melhor ou pior com elas, equilibrá-las mais ou menos, este período trouxe ao de cima muitas emoções. Talvez algumas desconhecidas para muitas pessoas.

No final das contas, ninguém estava realmente preparado para lidar com esta situação e tivemos que nos adaptar muito rapidamente a uma situação nova.

Por isso, se o ecrã congela, se a ligação de internet falha ou se tens que repetir tudo o que disseste, porque te esqueceste de ligar o microfone… se calhar não faz mal. Até porque se podem fazer boas piadas sobre isso.

© Isa Lisboa

Mute

“You’re on mute”

Quote of the year 2020

Encontrei há dias esta piada no Linkedyn. Eu que trabalho na área de serviços e que, por isso, passei uma boa parte do ano em teletrabalho e a contactar com os colegas via vídeo – chamada, posso identificar-me. Disse esta frase várias vezes e eu própria já fui avisada de que estava a falar comigo própria, visto ter o microfone desligado.

Para lá da piada, pus-me a pensar quantas vezes não estaremos no mute, sem saber. E não falo de vídeo chamadas.

Quantas vezes não falamos sem sermos ouvidos e não nos apercebemos?

Reformulo: quantas vezes não falamos sem sermos escutados e não nos apercebemos?

Quantas vezes, imersos na nossa vontade de partilhar o nosso ponto de vista, não estaremos apenas a falar? A ser ouvidos, mas não escutados? Falamos, sem nos apercebermos de que perdemos a atenção de quem nos ouve?

Quantas vezes falamos sozinhos, sem que ninguém nos avise de que estamos no mute?

 

© Isa Lisboa

Imagem: pixabay.com

Massa – mãe

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O que aprendeste durante a quarentena? Tenho ouvido esta pergunta recentemente. A resposta que me surge recorrentemente é apenas uma: “massa-mãe”.
Massa-mãe é também o tema que me surge sempre que penso em escrever, apesar de não saber exactamente o que escrever.

Mas “massa-mãe” parece ser a resposta à pergunta, apesar de eu ainda não ter entendido qual a pergunta. Por isso, decidi escrever. Escrever sobre massa-mãe. Vou começar a discorrer sobre massa – mãe e ver aonde isto me leva.
Desde já, apresento as minhas desculpas, caso cheguem ao final e nada disto faça sentido.

Mas a certa altura, massa – mãe fez sentido. Queria continuar a fazer pão de aveia e espelta em casa. Algo que descobrira recentemente. Que gosto de pão de aveia e espelta e que prefiro fazer este pão em casa, às variedades já embaladas. Comecei então a comprar levedura. Mas, pouco tempo após o início da quarentena, a levedura e a farinha tornaram-se no novo papel higiénico. Durante a pandemia, surgiu uma pãodemia e na prateleira do supermercado nem um cubo do ambicionado fermento de padeiro.
O que me fez pensar que antigamente, a levedura não aparecia em cubos envoltos em plástico. E embora eu saiba que os ovos não nascem nas caixas de pack de 6, na verdade não sabia como fazer levedura. Quando aprendi a fazer pão com a minha mãe, ela usava um cubo de fermento envolto em papel…

Decidi perguntar ao Google. Descobri que podia fazer massa – velha. Esta é feita a partir de uma pequena quantidade de levedura misturada com farinha. Mantinha-se o problema: não tinha nenhum pedaço de levedura de sobra.

Havia então a massa – mãe. Os artigos avisavam que fazer massa – mãe era um processo de paciência, que demoraria tempo, que precisava de dedicação diária, de alguns minutos. E, no final de tudo isso, o processo podia não resultar.

Apesar de todos os avisos – ou, na verdade, por causa deles – a ideia fascinou-me. Fiquei logo com vontade de experimentar.

Agora que escrevo, parece-me que algo nesta descrição me lembrou da vida. Dá trabalho, é preciso ter paciência. E garantias, poucas vezes as há.

Se calhar, foi por isso que decidi fazer massa – mãe.

Com mais tempo nas mãos, apeteceu-me voltar a este pedaço de básico da vida: para que algo cresça, é preciso alimentá-lo todos os dias. E aceitar que há dias em que se vêm resultados, e outros que não.

Aquela massa-mãe que comecei a fazer durou bastante tempo. Na verdade, até hoje. Hoje usei toda a massa – mãe que tinha guardada.

Assim como não sabia o que ia escrever, também não sabia bem porque quis usar toda a quantidade. Podia ter deixado um pouco e continuar a alimentá-la.

Mas se a massa – mãe é como a vida, então também este ciclo tinha que acabar.

Quando precisar, começo de novo uma massa – mãe.

Porque agora já sei como a fazer.

© Isa Lisboa

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Podar

Tenho um pequeno jardim na minha varanda. E hoje foi dia de podar e de tirar ervas daninhas.

Passado o inverno, um período de frio, chuva e outros desafios, as plantas apresentam algumas marcas desse tempo. Folhas secas, talos secos ou a apodrecer.

Mostrando a outra faceta da natureza, algumas folhas novas começam a nascer.

Na natureza não manipulada, as folhas e galhos mortos acabariam por cair, abrindo espaço às novas folhas e caindo no chão, tornando-se fertilizante da planta onde antes estavam.

Neste caso, eu dei uma ajudinha ao processo. Para o tornar mais fácil. Ajudar as plantas a adaptarem-se, uma vez que o vaso não é o seu ambiente natural.

Ao olhar para o que sobrou, os galhos e folhas cortadas, senti que também algo em mim precisa ser podado. Não sei exatamente o quê, neste momento. Mas sinto-o à espreita, prestes a partir e a cair no chão, para fertilizar o que a seguir virá.

Acredito que todos passamos por fases destas, de tempos a tempos. De poda. De fim de ciclo.

E quando um ciclo termina, temos de o deixar ir. E mantermo-nos abertos ao que virá. Mesmo que, como agora, certezas haja poucas.

Olho pela janela e o dia está bonito, o sol entra pela minha sala e aquece o ambiente, ilumina o caderno onde escrevo. O céu está azul e as nuvens brancas parecem fofas e leves.

E hoje, agora, não devo aproveitar este tempo. Mas a vista da minha janela, a mistura destas cores com outros verdes, lembra-me de como a natureza é, também ela cíclica.

Ainda ontem chovia. Hoje está sol. Hoje foi dia de poda. Amanhã, ou daqui a uns dias, talvez encontre um rebento novo, que hoje me escapou.

Um grupo de pássaros acabou de passar, num voo sincronizado.

Vou fechar o caderno e pousar a caneta. Por hoje. Por agora. Há sempre mais dias para escrever.

© Isa Lisboa

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Quebrar ou Superar

broken-1391025_1920Imagem: http://www.pixabay.com

Naquele momento, instante, segundo – sentimos. Naquela fração de tempo antes de a corda partir – nós sentimos. Sentimos que a corda vai partir.

E depois que o fio se rompeu, cabe a nós escolher. Escolher se vamos quebrar ou se vamos superar.

Pode parecer que nem sempre temos escolha. Às vezes é muito difícil. Tudo te empurra para quebrar. As emoções fervem, o corpo dói e o espírito sente-se fraco.

Como podem pedir-te que subas uma montanha, depois de fazeres uma maratona? É quase cruel.

Mas o que importa é aquela pergunta crucial: queres estar aí; és feliz aí onde estás, a sentir-te como te sentes?

Não?

Então tens que superar. Tens que subir a montanha. Por muito que aches que vai custar. E vai mesmo. Vão doer-te músculos que não sabias que tinhas. A tua mente vai querer parar, poupar-te. É esse o primeiro instinto.

Mas não te esqueças do teu instinto de viver. De seres feliz. De seres plen@.

Tu sabes que queres chegar ao cimo da montanha.

Então põe-te a caminho! Um passo de cada vez.

 

© Isa Lisboa

2020: Onde estão os carros voadores?

É certo: Não estamos a viver um filme futurista do século passado. Nem skates que flutuam, chips por debaixo da pele, nem carros voadores.

Ainda assim, dizem, o futuro está a chegar. Dizem-no as casas inteligentes, as assistentes pessoais do telemóvel e robots com nome próprio e os primeiros carros sem condutor.

Quando eu nasci, a TV era a preto e branco e, quando eu queria mudar de canal, não tinha controlo remoto – precisava levantar-me e mudar o canal no aparelho. Um dos canais. Alguns anos depois, quando a TV já era a cores, vieram mais dois.

Houve um tempo em que eu via na TV os Jogos sem Fronteiras. Hoje, após a explosão da internet, o mundo tem cada vez menos fronteiras. Talvez as pessoas tenham descoberto novas fronteiras, especialmente entre pessoas. Também descobriram algumas nelas próprias, mas encontraram formas novas de as ultrapassar.

Também nesse tempo das minhas memórias, o telefone estava preso à parede e discávamos o número para onde ligar. Hoje, nós e os telemóveis estamos menos presos aos mesmos lugares. E ainda bem: viajar é preciso. Especialmente, é preciso viajar para fora de nós.

E hoje podemos viajar sem sair do lugar. O mundo (quase) todo está à distância de um clique. Também o está a sala de cinema ou uma refeição levada a casa. Habilidades do nosso smartphone. Smarts são também alguns watches. E os novos carros, já ligados ao phone, o smartphone.

Estão mais inteligentes, os carros. Mas ainda não voam. E por acaso acho isso uma pena, especialmente quando estou no meio de uma qualquer fila de trânsito.

É provável que também as haja no ar, quando os carros voarem. Sim, porque os carros ainda não voam, mas tudo indica que estão a ganhar asas. E tudo indica que sempre iremos querer ir a algum lugar.

Foi essa vontade de ir, de descobrir, que nos trouxe aqui. A este futuro sem carros voadores, mas com tantas coisas fantásticas!

Também com bastantes e novos desafios, é certo. Mas o vento que travou algumas caravelas, também empurrou outras para lá do Cabo Bojador.

Por isso, talvez eu ainda veja auto-estradas no céu e conduza um carro alado!

© Isa Lisboa

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Imagem: pixabay.com