
O que aprendeste durante a quarentena? Tenho ouvido esta pergunta recentemente. A resposta que me surge recorrentemente é apenas uma: “massa-mãe”.
Massa-mãe é também o tema que me surge sempre que penso em escrever, apesar de não saber exactamente o que escrever.
Mas “massa-mãe” parece ser a resposta à pergunta, apesar de eu ainda não ter entendido qual a pergunta. Por isso, decidi escrever. Escrever sobre massa-mãe. Vou começar a discorrer sobre massa – mãe e ver aonde isto me leva.
Desde já, apresento as minhas desculpas, caso cheguem ao final e nada disto faça sentido.
Mas a certa altura, massa – mãe fez sentido. Queria continuar a fazer pão de aveia e espelta em casa. Algo que descobrira recentemente. Que gosto de pão de aveia e espelta e que prefiro fazer este pão em casa, às variedades já embaladas. Comecei então a comprar levedura. Mas, pouco tempo após o início da quarentena, a levedura e a farinha tornaram-se no novo papel higiénico. Durante a pandemia, surgiu uma pãodemia e na prateleira do supermercado nem um cubo do ambicionado fermento de padeiro.
O que me fez pensar que antigamente, a levedura não aparecia em cubos envoltos em plástico. E embora eu saiba que os ovos não nascem nas caixas de pack de 6, na verdade não sabia como fazer levedura. Quando aprendi a fazer pão com a minha mãe, ela usava um cubo de fermento envolto em papel…
Decidi perguntar ao Google. Descobri que podia fazer massa – velha. Esta é feita a partir de uma pequena quantidade de levedura misturada com farinha. Mantinha-se o problema: não tinha nenhum pedaço de levedura de sobra.
Havia então a massa – mãe. Os artigos avisavam que fazer massa – mãe era um processo de paciência, que demoraria tempo, que precisava de dedicação diária, de alguns minutos. E, no final de tudo isso, o processo podia não resultar.
Apesar de todos os avisos – ou, na verdade, por causa deles – a ideia fascinou-me. Fiquei logo com vontade de experimentar.
Agora que escrevo, parece-me que algo nesta descrição me lembrou da vida. Dá trabalho, é preciso ter paciência. E garantias, poucas vezes as há.
Se calhar, foi por isso que decidi fazer massa – mãe.
Com mais tempo nas mãos, apeteceu-me voltar a este pedaço de básico da vida: para que algo cresça, é preciso alimentá-lo todos os dias. E aceitar que há dias em que se vêm resultados, e outros que não.
Aquela massa-mãe que comecei a fazer durou bastante tempo. Na verdade, até hoje. Hoje usei toda a massa – mãe que tinha guardada.
Assim como não sabia o que ia escrever, também não sabia bem porque quis usar toda a quantidade. Podia ter deixado um pouco e continuar a alimentá-la.
Mas se a massa – mãe é como a vida, então também este ciclo tinha que acabar.
Quando precisar, começo de novo uma massa – mãe.
Porque agora já sei como a fazer.
© Isa Lisboa
