Como se as Areias do Tempo se tivessem soltado, o Instante se deu, congelando o Futuro, preso entre um e outro lado da Grande Ampulheta.
Momentos há em que é o Passado que escorre com dificuldade, mas também o Futuro pode passar em frente dos nossos olhos, grão a grão do que não mais será, grão a grão do que não mais sabemos.
Somos nós também um grão, entre os Tempos da Ampulheta. Julgamos saber para que lado cairemos de seguida, mas nada tomemos por certo. Apenas que a Vida nos foi dada por Dádiva e devemos fluir com ela, ouvir como os nossos passos fazem parte de uma caminhada maior que nós.
Diz-me a tua Voz que confie, que me deixe escorrer com as lágrimas, mas que não me deixe cegar por elas. Que permita que elas me purifiquem e que me abram mais os olhos.
Que eu não me permita esquecer de quem sou e de onde venho.
Que eu não me permita ensurdecer, deixar de ouvir a mim mesma.
Que eu não me permita duvidar da minha própria Voz.
E que eu não permita vacilar, no momento em que entender as Areias do Tempo, e a Ampulheta volte a andar, no centro da Bússola.
© Isa Lisboa

Imagem: Beth Moon