
Era um vendedor de sonhos. Tinha um pregão chamativo. Dispunha-os de forma inteligente na sua bancada, de forma a que os maiores ficassem em destaque e chamassem também a atenção dos potenciais clientes.
Alugara aquele espaço, sem saber ainda bem o que queria vender. Queria vender algo que as pessoas precisassem, mas não só. Queria vender algo que as pessoas quisessem.
Matutou, matutou, e viu o quanto os sonhos andavam na mó de baixo, ultimamente.
As pessoas contentavam-se com o que era normal, habitual, banal.
Era um risco, sabia. Oferecer algo diferente tanto podia ser um grande êxito, como um gigantesco flop.
Mas ser vendedor de sonhos era profissão que lhe assentava como uma luva.
Dedicou-se a escolher a melhor matéria-prima e a estudar a melhor forma de os moldar, de maneira a que fossem especiais. Cada um saía diferente, como devia ser, para que cada cliente pudesse comprar o seu próprio sonho, adaptado ao gosto de cada um.
Distribuiu flyers por vários locais e, no dia marcado, inaugurou a sua banca de sonhos.
O efeito surpresa resultou, vieram muitos curiosos e, naturalmente, outros tantos cépticos. Nem todos compraram, mas o primeiro dia encerrou com saldo positivo.
A curiosidade passou palavra e outros curiosos foram passando e comprando. Negócio de vento em popa, era agora, oficialmente um vendedor de sonhos.
Sentia-se feliz de cada vez que via a bancada a esvaziar. Mais feliz quando, por acaso, se cruzava com alguém na rua, que, feliz, lhe vinha dizer como gostava dos sonhos que vendia.
Alguns clientes eram mais exigentes. Ao chegar, não encontravam exposto aquilo que procuravam. Deixavam encomendados os seus requisitos, aquilo que queriam de especial.
Isto constituía um desafio para o vendedor, que também era um fazedor.
Alguns sonhos podiam demorar semanas a aperfeiçoar. Desde descobrir tudo o que era preciso, até encontrar as quantidades certas e o ponto ideal de os misturar. O nosso vendedor sentia-se um artesão. E, na verdade, era arte o que saía das suas mãos.
Por vezes sentia uma ponta de nostalgia quando vendia um novo tipo de sonho… Afinal era uma criação sua e seria outra pessoa a usufruir dela…
Mas algo maior se sobrepunha, como se não estivesse apenas a vender, mas também a construir.
No entanto, quando recebeu a sua primeira reclamação, apercebeu-se de que as pessoas se esqueciam rapidamente da única instrução que dava quando vendia um sonho:
“Alimentar diariamente!”
© Isa Lisboa