Ciclos, bruxas e antepassados

Nesta altura do ano, assinalam-se várias festividades ou efemérides. O Halloween, o Samhain, Lo Dia de Los Muertos e o Dia dos Fiéis Defuntos.
São comuns a todos eles, de alguma forma, o fim de um ciclo. No Samhain marcava-se o fim do Verão e o início do Inverno, na cultura celta. No Dia de Los Muertos e no Dia dos Fiéis Defuntos, honram-se os antepassados, recordam-se os mortos, lembrando a brevidade desse ciclo maior que é a vida. O Halloween evoca o lado escuro, por vezes até terrorífico da vida, e trá-lo à luz do mundo, lembrando que precisamos de nos libertar das trevas para poder ver a luz.
Há quem defenda que estas tradições estão entrelaçadas e que têm origem no festival celta. Há quem celebre um e discorde da celebração dos outros.
Pessoalmente, gosto desse entrelaçar de ideias que estas celebrações me sugerem.
Agrada-me a ideia de que a linha entre este mundo e o sub-mundo se desvanece, por um momento. Que por um momento pomos cá para fora o lado vampiresco, o lado bruxa com verruga, o lado monstro desconhecido. Que o pomos cá para fora, não para o adorar. Mas para o reconhecer e deixar de o recear. Não para o deixar à solta, mas para escolher antes a melhor parte de nós.
Agrada-me essa celebração do fim de um ciclo. Mesmo que o Verão tenha sido difícil e que não saibamos bem como será o Inverno, a verdade é que o Verão acabou, e não vale a pena ficarmos agarrados a ele. Assim é também na vida. Adeus, Verão; bem vindo, Inverno.
É tempo de celebrar o que vem na frente e o passado, o passado é tempo de honrá-lo. Honrá-lo como aos nossos antepassados, que preparam o caminho para o mundo que habitamos hoje. Honrar a sabedoria que nos passaram, ao longo das gerações. Mas também honrar a sabedoria em nós. Aquela que acumulámos em todas as estações que já vivemos. E saber que ela nos acompanha nas que aí vêm.
Adeus, Verão. Bem vindo, Inverno.

© Isa Lisboa

Recuperar

Halloween

Samhain

Dia dos mortos

Dia de Todos os Santos

Estas são as celebrações que acontecem por estes dias,  com pontos em comum, desde os simbolismos às teorias sobre a origem.

Para mim, este momento do ano representa o encararmos do nosso lado mais fantasmagórico, monstruoso e sombrio. E perceber que esse lado também faz parte de nós e é também bonito, à sua maneira.

É também uma transição, neste caso para os dias frios que aí vêm e os dias em que o corpo e o espírito pedem recolhimento, para nos alimentarmos da colheita que fizemos. É um momento que acredito que todos precisamos aproveitar, o deste recolher da alma.

É também um momento em que, segundo a tradição, a linha entre o mundo visível e o invisível fica mais ténue. É um bom momento para também olharmos para estas duas partes de nós e entender o quanto estão juntas ou separadas e quais partes de nós precisam ser recuperadas.

Recuperar. Recuperemos forças, aproveitemos o frio, o vento e o sol tímido, esperemos a chuva. É o momento em que a natureza adormece, sem no entanto deixar de se mostrar presente. E no interior de tudo o que nos rodeia, a vida pulsa. Talvez a um ritmo mais calmo. A seiva corre nas árvores, os animais enroscam-se num cantinho, protegidos do frio. 

Recuperar.

© Isa Lisboa