Era manhã e havia orvalho na janela. Havia ainda flocos do sol que nasceu, vislumbrou. Ela estava sentada num banquinho, os braços apoiados na mesa de madeira. A casa ainda dormia, assim como o mundo.
As abas do pijama alvo moveram-se ao ritmo da porta que retiniu. Sabia que não era o vento; e não sabendo ao certo quem esperava, levantou-se para o receber.
Empurrou a porta devagar e entrou, sorriso á frente. Tinha a pele de muitas luas e os olhos de muitos sóis. Estendeu-lhe uma oferta.
Vendo que estava embrulhada em maresia, aceitou-a com cuidado. Quando ia agradecer, viu-o desaparecer calmamente no nevoeiro. Sem entender, entendeu. O presente era para abrir.
Encontrou um par de asas, que lhe serviam na perfeição.
Agora já era noite, mas ainda assim levantou voo. Voou na direcção do mar, porque não?
O cheiro da maresia guiava-a e a memória de casa persistia. Não era uma memória vã, era mais antiga que ela própria, e só para a lembrar, acordara nessa manhã.
Voou até ver. Quando viu, soube, e quando pousou os pés na areia, já não era manhã, nem noite.
© Isa Lisboa

Imagem: Mila Marquis
Imagem: mila_marquis-1068×1068
Li e reli. E a cada vez que li gostei mais! ❤
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