Há alguns anos atrás, num momento difícil da minha vida, sentei-me num banco de uma carruagem de metro acompanhada de todos os pensamentos negativos que na altura me povoavam a mente.
A certa altura, esses pensamentos começaram a querer transformar-se em lágrimas e, como a maioria das pessoas faria, tentei contê-las a todo o custo.
Mas não consegui.
Agora, olhando para trás, acho que deixei de resistir em parte porque o metro estava quase vazio e achei que ninguém ia sequer reparar. Nessa altura, as pessoas ainda não viajavam com os olhos fixos no telemóvel. Mas viajavam com o olhar fixo num ponto perdido. Por isso, parte de mim deve ter achado que ninguém iria reparar. E a outra parte de mim, naquele momento, não queria saber se alguém reparava ou não.
Na verdade, alguém reparou.
A certa altura, uma senhora veio ter comigo e ofereceu-me um lenço de papel.
Talvez esta história fosse muito mais bonita se eu dissesse que naquele momento todos os meus problemas se dissolveram. Mas não foi assim. Foi preciso mais algum tempo para isso.
No entanto, aquele pequeno gesto foi um sinal de que podemos ter fé nas pessoas. E por isso, foi um sinal para ter também fé em mim mesma.
Olhando agora para trás, a esta distância, vejo que essas lágrimas também me ensinaram que não faz mal deixar as lágrimas cair. Desde que não nos afoguemos nelas.
As lágrimas podem ajudar-nos a lavar o coração. Mas se nos agarrarmos demais a elas, podem antes cristalizá-lo.
Cristalizá-lo não com o sal, mas com a dor.
Por essa razão, quando me oferecem um lenço de papel, eu aceito.
© Isa Lisboa