“Se eu conseguisse adormecer, pelo menos não sentia a dor.”
Foi este o pensamento que trespassou pela minha cabeça durante uma dor de dentes particularmente insistente.
No entanto, este pensamento não teve o efeito de me adormecer, mas antes de me colocar alerta. Porque, subitamente, apercebi-me do quanto este é um pensamento perigoso.
Porque a dor, pode, efectivamente, ser um importante veículo para o adormecimento. Um veículo conduzido não só pelos outros, mas também por nós.
Quantas vezes, para não sentirmos a dor, não procuramos adormecer? Ao dormir, a dor continua lá, mas não se sente, por isso é como se ela já não existisse. Como se. Mas o problema é que continua a existir. E às vezes acorda-nos a meio da noite, provocando-nos um pouco de insónia agora. E, para além disso, o despertador irá tocar, iremos acordar. E aí, teremos que lidar com a dor. De forma mais dolorosa, talvez.
Por isso, podemos sempre tentar adormecer, mas a dor sempre voltará e sempre nos acordará. Os analgésicos só funcionarão durante algum tempo. Depois a dor torna-se imune a eles. Continua a manifestar-se para nos avisar de algo muito importante. O sítio onde dói precisa ser curado.
E é por isso que embora ninguém goste de uma dor de dentes, a verdade é que ela tem a sua função.
Se bem que… já perceberam que já há alguns parágrafos atrás que parei de falar de dores de dentes? Não foi?
© Isa Lisboa

Imagem: Herb Ritts
O problema Isa é que hoje em dia ninguém quer a dor. A dor faz crescer, trás resiliência, paciência e ensina-nos a ver o mundo com outros olhos. Olhando para a minha vida, foram esses momentos que mais me fizeram crescer, porque efectivamente o que não me mata, torna-me mais forte. Pena que neste nosso mundo a “dor” seja sempre vista como algo a contornar.
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Acredito que “estamos cá” para ser felizes. Mas por vezes a dor é inevitável, e quando ela vem, devemos saber entender o que ela nos diz. Obrigada pela sua leitura e comentário, Ana!
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