Um dia, quase me afoguei.
Estava na água com uma amiga e, sem que nos apercebêssemos, as ondas em redemoinho foram-nos empurrando para longe da costa e de onde tínhamos pé.
Quando me apercebi disso e visto que as ondas eram fortes, o meu primeiro pensamento foi nadar para a margem. Apesar de as ondas estarem fortes, eu sabia que o conseguia fazer.
Mas a minha amiga não sabia nadar e, por isso, a primeira reacção dela foi bem diferente. Com medo das ondas e não sabendo nadar, agarrou-se às minhas mãos, pedindo-me que não a largasse.
Eu nunca tinha tentado tirar da água uma pessoa que não soubesse nadar. Mas tive a forte certeza de que daquela forma não o conseguiria fazer. Porque tinha, literalmente, as mãos amarradas e precisava dos braços para nadar.
Creio que por uns segundos, tudo parou à minha volta. Percebi que assim nenhuma de nós duas sairia daquele redemoinho.
Então simplesmente disse-lhe isso e disse que ela tinha que largar as minhas mãos e agarrar-se aos meus ombros, sem fazer força. E que dessa forma, eu conseguiria nadar e levar-nos às duas para a margem.
E foi mesmo assim que ambas conseguimos voltar.
Entretanto uma outra amiga já se tinha apercebido do que se passava e tinha ido chamar o nadador-salvador. Portanto, de alguma forma, o perigo não era tão grande assim, ou, pelo menos, tínhamos mais uma hipótese de ajuda.
Lembrei-me desta história porque um dos ensinamentos que posso tirar dela é o de que, se nós deixarmos, o medo de outra pessoa pode paralisar-nos e afogar-nos.
Neste caso, era um medo perfeitamente justificado, visto que ela não sabia nadar.
Mas também era um medo que nos poderia ter levado a não lutar contra as ondas. Agarrar-se às minhas mãos era algo, que, para ela, naquele momento, fazia sentido; e era isso que estava a mantê-la salva. Mas também era isso que poderia ter-nos impedido de sair dali.
E uma parte de mim, ouvindo o apelo aflito de “Não me largues!”, uma parte de mim achava “Não posso largar!”.
Também na vida isso nos acontece: Temos medo do medo de outra pessoa. Sabemos que temos que agir de outra forma, mas temos medo. Medo que o medo da outra pessoa esteja certo. Medo de lhe falharmos.
Mas se esse medo nos faz ficar parados num redemoinho de ondas, em vez de nada com força para um lugar seguro… Será esse medo útil…?
© Isa Lisboa
- Imagem: http://www.pixabay.com
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